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"EU, CROSSDRESSER – ELUCIDAÇÕES SOBRE A QUESTÃO" - entrevista ao OQNV.

O post de hoje é a reprodução da entrevista que concedi a o blog da Duloren em 17/11/2017, e trata de  crossdressing m2f. Para conferir veja em:
http://oqnv.duloren.com.br/eu-crossdresser-elucidacoes-sobre-questao-por-fe-maidel/



"Para mim, a definição de crossdresser é vestir-se (dress) de forma cruzada (cross). Seria o oscilar, o “ir e vir”, algo como expressar-se de maneiras distintas e que, ao acontecerem, são rotuladas como “masculinas” ou “ femininas”.

Pode-se considerar crossdressing o ato deliberado de vestir e comportar-se com roupas e gestualidade de outro gênero, que não o seu. Mas isso carrega , em si, algumas questões culturais e sociais, como por exemplo, o Kilt escocês e a mulher ocidental moderna, que a 70 anos atras não usaria, jamais, calças compridas. Acredito, pessoalmente, que o crossdressing seja uma "expressão de gênero", mais do que uma "identidade", como um enquadre. A pessoa crossdresser, que pode ser m2f, (male to female), ou f2m, (female to male), mais que as outras formas de expressão "trans", carrega em si a intermitência, a oscilação e o desejo de expressar mais formas de ser do que as contidas nas caixinhas de gênero. Seria como uma apropriação das possibilidades de ser,  à despeito do que a sociedade impõe como padrão.

Muitos crossdressers, no entanto, preferem se manter distantes da questão de gênero, ficando sob o manto do fetiche, da realização dos desejos através de objetos e elementos externos mantendo-se, assim, longe dos rótulos como “Dandi”, ”bichinha”, ” viado”... Outros preferem levar o processo de transição adiante, assumindo-se posteriormente "não-binários", "travestis" ou "transsexuais", dependendo do ponto em que desejem estacionar na transição.
Acredito que, por isso, os crossdressers, diferente de outras expressões, sofram menos preconceitos, exatamente por estarem "blindados", protegidos pelo anonimato. O maior preconceito em relação ao crossdressing vem dos próprios crossdressers, que temem pela eventuais perdas (que são reais) caso sejam descobertos. Família, emprego, status, posição social, respeitabilidade junto à comunidade, são alguns dos vários fatores que um crossdresser leva em consideração para decidir manter o seu segredo. Mas esta posição, a longo prazo, pode trazer grande sofrimento psicológico à pessoa.
Os erros mais comuns ao se tratar do tema seriam exatamente não levar em conta o modo como o individuo se percebe e sente, ou seja, um homem que, apesar do preconceito à sua volta, se permite vestir, mostrar, ou declarar uma expressão feminina, deve ser respeitado e, em caso de dúvida, deve-se questionar como prefere ser chamado(a), com pronomes e adjetivos coerentes com essa visão.

Agir de outra forma vai contra um dos direitos básicos da pessoa, que é a autodenominação, devendo prevalecer a forma como me vejo e entendo no mundo. Quando uma pessoa procura uma lingerie, ou roupa intima, que satisfaça a visão pessoal que a pessoa tem de si, seja com que propósito for, ela está procurando ferramentas concretas para desconstruir uma imposição feita e construindo algo melhor para si."

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